Alexandro “Hazard” Lucian, criador do Vaporaqui.net, foi um dos convidados como palestrante do “Seminário Internacional de Redução de Danos: Histórico, Atualidade e Perspectivas” que ocorreu na Faculdade São Leopoldo Mandic, em Campinas – SP, no dia 17 de Maio e trazemos um resumo do evento e dos principais assuntos discutidos.
Entre professores, especialistas, mestres e doutores com grande gabarito em suas áreas, muita informação foi fornecida para um público de cerca de 200 pessoas, compostas principalmente de estudantes, profissionais e interessados na área de saúde pública.
O evento contou com 4 palestras.
Conteúdo
Primeira palestra
O Prof. Dr. Maurício Fiore, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e editor da Platô: drogas e políticas, revista científica da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, falou sobre sua experiência no campo de pesquisas sobre drogas.
Em companhia do moderador Prof. Dr. Thiago Trapé, doutor em Política, Planejamento e Gestão em Saúde, fizeram um painel sobre políticas de saúde em relação às drogas e a forma como o governo se posiciona em relação ao consumo de qualquer uma dessas substâncias.
Segunda palestra
O Prof. Dr. André Malbergier, médico e doutor em Psiquiatria, juntamente com o Moderador Dr. Pedro Farsky, falaram sobre a dicotomia do “tudo ou nada”, a antiga ideia de que é preciso que uma pessoa seja completamente abstinente de substâncias que ofereçam potenciais danos, para uma nova abordagem de “se você não consegue/quer parar de usar, use de maneira menos danosa possível”.
Terceira palestra
A palestra de Alexandro Lucian foi na terceira mesa de debate, em companhia da Profa. Dra. Silvia Cazenave, doutora em Toxicologia e ex-superintendente de Toxicologia da Anvisa entre 2014 e 2016. Silvia Cazenave realizou apresentação sobre a quebra de paradigma em relação ao tratamento a viciados.
Antigamente o pensamento era exclusivamente do internamento e a abstinência. Hoje, sabe-se que o caminho mais eficaz é o da redução de danos, ajudando as pessoas que não conseguem ou não querem parar de consumir algum tipo de substância, a utilizá-la de forma menos destrutiva.
A forma mais clássica que representa esta política de redução de danos é a distribuição de seringas descartáveis para usuários de drogas injetáveis.
Para o viciado em cocaína, ao invés de excluí-lo da sociedade e exigir que o único tratamento seja a institucionalização e abstinência, solução que muitas vezes é ineficaz e costuma fazer o paciente voltar a consumir a droga após liberação, a abordagem da redução de danos é indicar a melhor maneira de consumir o produto. Não utilizar dinheiro enrolado e sim um canudo de plástico e não compartilhá-lo, intercalar as narinas entre um consumo e outro, evitando danos à mucosa nasal, entre outras sugestões.
No caso do tabagismo, pontuou a vantagem de utilizar produtos de entrega de nicotina de risco reduzido, como o tabaco aquecido e os cigarros eletrônicos.
Participação de Alexandro Lucian
A apresentação de Alexandro Lucian transmitiu ao público sua experiência como ex-fumante e consumidor de cigarros eletrônicos, história similar a de milhares de outras pessoas, que largaram o cigarro da noite para o dia, de forma muito mais fácil do que a esperada, sem recaídas e ganhando uma vida com mais saúde.
Deixou claro que os produtos não pertencem à indústria tabagista, que não foi sua inventora e tampouco detém maior parte do mercado mundial, narrativa muito usada por quem é contra a regulamentação dos produtos no Brasil, falsamente acusando os vaporizadores de serem apenas uma estratégia comercial e de marketing das tabagistas para manter e conquistar novos clientes.
Um segundo ponto levantado foi da ampla utilização dos produtos no país, cujo consumo só tende a aumentar. A proibição do comércio desde 2009 faz tempo que não impede a existência de um amplo mercado ilegal que cresce a cada dia. As pessoas estão comprando e usando na maioria das vezes sem as informações necessárias para sua própria segurança.
Um terceiro ponto foi salientar o quão importante é uma regulamentação feita de uma forma coerente, baseada em pesquisas científicas, sem se contaminar com o terrorismo midiático e interesses de organizações ideológicas. Os cigarros eletrônicos já possuem pesquisas suficientes para determinar que são produtos de muito menor risco e que ajudam a parar de fumar.
A maioria dos fumantes brasileiros não tem escolha e continuam fumando, já que os métodos clássicos contra o tabagismo como força de vontade, adesivos, gomas de mascar e remédios possuem índice de sucesso de menos de 30%, com algumas pesquisas indicando somente 7% de eficácia. Temos quase 20 milhões de fumantes e não sabemos exatamente quantos usuários de narguilé, sem contar os novos fumantes dos próximos anos. Atualmente não há nenhuma alternativa regulamentada para que essas pessoas possam trocar o consumo de um produto muito prejudicial por outro de muito menor dano.
Alexandro Lucian finalizou abordando a questão dos jovens, uma grande preocupação, mas que deve ser abordada de forma pragmática e realista. Explicou que existem 3 caminhos possíveis que um jovem pode seguir: o melhor deles é aquele que não irá consumir produtos que causam danos, independente de quais sejam.
O segundo caminho é evitável ou pelo menos reversível, quando um jovem que não seria um fumante passa a usar os cigarros eletrônicos. Neste caso uma série de filtros precisam ser ultrapassados. Falham os pais na educação preventiva, falha a escola na vigilância de seu ambiente, falha o comerciante em permitir acesso a esses produtos e falha o governo em criar políticas de combate ao uso por menores.
Mesmo que todos esses filtros sejam ultrapassados, ainda teremos apenas um experimentador e não um consumidor, cabendo a nós trabalharmos para impedir que isso ocorra e se ocorrer, agir para reverter o quadro, que de acordo com várias pesquisas, indicam que é um percentual estatisticamente pequeno.
O terceiro e último caminho exige que sejamos realistas. Haverão muitos novos fumantes nos próximos anos e alguns destes serão jovens, não há como evitar isso. Se não há solução, então que sejam consumidores de produtos com risco reduzido, mesmo que na ilegalidade, mesmo caso exista um comércio regulamentado.
É preciso oferecer alternativas, já que no Brasil é fácil adquirir cigarros que comprovadamente viciam e matam, produtos que os próprios fabricantes não querem mais oferecer, enquanto cigarros eletrônicos seguem totalmente ilegais.
Quarta palestra
O evento continuou com a última mesa de discussão com o Doutor Kevin McGuirre, professor da Universidade de São Francisco na Califórnia, onde estuda o uso de dispositivos eletrônicos de nicotina, em companhia do Dr. José Queiroz, Diretor Executivo da Agência Piaget Para o Desenvolvimento (APDES), entidade de sociedade civil de Portugal que trabalha com comunidades e públicos em situações de vulnerabilidade (usuários de drogas sendo uma delas).
Finalização
No final, foi feita uma sessão em que todos os convidados palestrantes puderam responder a questões apresentadas pelos presentes.
Abaixo você consegue conferir o resumo em vídeo:
Publicamos também as palestras na íntegra abaixo: