Paulo Jubilut, biólogo famoso com mais de 2.5 milhões de inscritos no Youtube, divulga vídeo com fake news sobre o vape

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Tempo de leitura: 7 minutos

Contexto

Paulo Roberto Jubilut, conhecido como Professor Jubilut, é um youtuber, educador, palestrante, empresário e autor do canal Biologia Total, reconhecido como um dos maiores canais de ensino de biologia no YouTube brasileiro.

No dia dia 29 de Outubro de 2022 Jubilut publicou um vídeo curto intitulado “Quantos CIGARROS equivalem a um VAPE?” e compartilhou informações falsas, contribuindo para a desinformação sobre o assunto. O vídeo pode ser assistido abaixo:

Conteúdo da publicação

Há um total de 5 informações falsas no vídeo.

  1. “Cigarros eletrônicos equivaleriam a um maço de cigarros ou 20 unidades de cigarros”;
  2. “Cada cartucho de “essência” poderia ter até 40 mg de nicotina”;
  3. “Cada cigarro costuma ter 2 mg de nicotina”;
  4. “A nicotina é absorvida mais rapidamente pelo vape do que pelo cigarro”;
  5. “Os cigarros eletrônicos possuem Acetato de Vitamina E, que pode acabar com os pulmões de uma pessoa”.

Com apenas um pouco de pesquisa é possível verificar que todas as afirmações não procedem, o que prova que não importa o currículo ou experiência de um profissional, tampouco sua credibilidade na área que atua, é sempre preciso estar atento e checar as fontes.

Todas as informações já foram tratadas extensivamente em artigos específicos em nosso portal, porém vamos explicar ponto a ponto neste artigo de forma resumida. Para consultar fontes acadêmicas e científicas que comprovam as informações, os artigos abaixo oferecem links:

Informações 1, 2, 3 e 4: Cigarros eletrônicos NÃO entregam mais nicotina que o cigarro convencional

Informação 5: A EVALI nunca teve relação com os vaporizadores de nicotina consumidos no Brasil

Quantidade de nicotina nos cigarros

É preciso começar pela terceira informação falsa de Jubilut: que cada cigarro costuma ter 2 mg de nicotina. Devemos lembrar que a nicotina se apresenta em 3 concentrações diferentes, dependendo da etapa de consumo. A primeira é sua forma bruta, presente antes do cigarro ser consumido. A segunda é a fumaça inalada, após acender o cigarro e tragar. A terceira e última é a absorção efetiva na corrente sanguínea.

No Brasil as tabagistas nacionais precisam fazer uma mistura de tabacos diferente, que resulta em 15 mg por cigarro ou o equivalente a 300 mg por maço. Esse é o valor da nicotina bruta presente na primeira etapa do processo de consumo.

Isso acontece porque a ANVISA através da RDC 14/2012 estabeleceu um limite de 1 mg total de nicotina que pode ser transportado na fumaça dos cigarros, sendo essa a segunda etapa do processo, a inalação. É por isso que comumente vemos pessoas leigas declarando que os cigarros possuem no máximo 1 mg de nicotina ou 20 mg em um maço, pois esse é o valor informado nas embalagens, mas não é o valor bruto e sim o valor já diluído na fumaça.

A terceira e última etapa, a absorção da nicotina, representa um valor muito menor, com cada cigarro entregando entre 20 e 23 nanogramas por ml ou o equivalente a 0,000000023 mg de nicotina. Parece pouco, mas isso é suficiente para viciar mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e quase 10% dos brasileiros.

Portanto, é falsa a informação de Jubilut de que “os cigarros costumam ter 2 mg”, sendo o correto algo como “no Brasil os cigarros possuem em média 15 mg de nicotina bruta por bastão, sendo transportada no máximo 1 mg na fumaça inalada e são absorvidos desse total de 20 a 23 nanogramas por ml no sangue”.

Quantidade de nicotina no vape

Já os líquidos para cigarros eletrônicos ou vapes podem possuir valores de nicotina bruta bem maiores dos que nos cigarros.

Oferecidos em concentrações que vão de 3 mg/ml até 60 mg/ml, enquanto um maço de cigarros pode ter no máximo 300 mg de nicotina bruta, um frasco de líquido para vaporizadores com volume de 30 ml (tamanho comum no mercado) pode chegar a 1800 mg.

Quando Jubilut diz que pode haver até 40 mg de nicotina, ele está equivocado para muito menos. Um cartucho de tamanho padrão contendo 2 ml de líquido pode ter até 60 mg/ml ou 120 mg de nicotina total, mas isso tem um motivo simples.

A fumaça do cigarro é um meio muito mais eficiente de entrega de nicotina, contrariando a quarta informação falsa de Jubilut: “que a nicotina é absorvida mais rapidamente pelo vape do que pelo cigarro”. Os cigarros possuem mais de 7000 substâncias conhecidas, muitas cancerígenas e presentes no produto para potencializar a entrega de nicotina, como a amônia por exemplo.

Enquanto isso, o aerossol dos vapes tem uma composição muito mais simples, além de não envolver combustão, se tornando muito menos eficaz na entrega de nicotina. Por esse motivo é preciso uma quantidade de nicotina bruta muito maior, para tentar alcançar os valores de nicotina entregues pelos cigarros.

Mesmo com muito mais nicotina bruta, a absorção na corrente sanguínea de um líquido de 60 mg/ml (concentração máxima disponível no mercado de vaporizadores e indicada somente para fumantes pesados) é de no máximo 16 nanogramas por ml ou 25% a 30% menor do que os cigarros.

É preciso lembrar que os líquidos mais comumente consumidos possuem em média 35 mg/ml, o que no comparativo entregam cerca de 13 a 15 nanogramas por ml no sangue, cerca de 35% a 40% menos nicotina.

Portanto, a primeira informação falsa dita no vídeo por Jubilut, de que “cigarros eletrônicos equivaleriam a um maço de cigarros ou 20 unidades de cigarros”, deveria na verdade ser algo como “cigarros eletrônicos, mesmo em sua maior concentração de nicotina disponível no mercado, indicada somente para fumantes pesados, ainda entrega cerca de 25% a 30% menos nicotina no organismo do que os cigarros.”

Já na quarta informação falsa dita no vídeo, que “a nicotina é absorvida mais rapidamente pelo vape do que pelo cigarro” deveria ser substituída por “a nicotina nos cigarros eletrônicos é menos absorvida em comparação com os cigarros convencionais”.

Acetato de vitamina E

A quinta e última informação falsa que Jubilut declara é que “os cigarros eletrônicos possuem Acetato de Vitamina E, que pode acabar com os pulmões de uma pessoa.”

Realmente o Acetato de Vitamina E pode acabar com os pulmões de uma pessoa. Isso porque ele é um produto de consumo seguro por ingestão e absorção cutânea, portanto engolir uma pílula de Vitamina E ou passar um creme na pele não oferecem riscos, porém a inalação causa uma pneumonia lipídica gravíssima, pois é um composto baseado em óleo.

Porém Acetato de Vitamina E não é parte integrante de nenhum produto de inalação do mundo e se fosse causaria mortes e hospitalizações em grandes proporções.

Apesar de entendermos o motivo da confusão de Jubilut, ele não é justificado. Nos EUA, aproximadamente no meio de 2019 até o começo de 2020, houve o caso EVALI, uma epidemia de doenças respiratórias causadas pelo Acetato de Vitamina E.

Houve muita cobertura da mídia, que foi confusa e ineficiente em informar o que realmente estava acontecendo, o que parece que também contaminou Jubilut.

Nos EUA muitos estados permitem o comércio de produtos de cannabis, incluindo cartuchos de óleo de THC (substância psicoativa da maconha) que são consumidos também usando vaporizadores, porém são produtos fundamentalmente diferentes do que conhecemos como cigarros eletrônicos ou vapes, consumidos no Brasil.

Por lá, o mercado de cartuchos de THC é legalizado e regulado em muitos Estados, onde até então não havia provocado doenças. Infelizmente houve a iniciativa de vários grupos criminosos que falsificaram milhares de produtos que utilizaram o Acetato de Vitamina E como diluente.

Por ineficiência do CDC, órgão de saúde americano, a doença foi inicialmente atrelada aos produtos de vaporização como um todo, sem distinção entre líquidos contendo somente nicotina e aqueles que continham THC.

Até hoje não houve nenhum caso confirmado de EVALI ligado ao consumo exclusivo de produtos contendo somente nicotina. Infelizmente a mídia de vários países, principalmente o Brasil, causou pânico e espalhou desinformação, criando uma noção equivocada sobre o caso, que Jubilut parece também ter acreditado.

Comentário do Youtube apagado

Quando encontramos o vídeo, fizemos um extenso comentário explicando os erros cometidos, porém não o localizamos após algumas horas da publicação. Deixamos abaixo um print e seu conteúdo na íntegra, para mostrar que o canal de Paulo Jubilut não parece estar interessado em transparência e na admissão de equívocos.

Mais uma vez o Vaporaqui.net se coloca à disposição para consultoria no assunto, para engrandecer as mídias sociais com informação adequada sobre os cigarros eletrônicos.

Texto transcrito:

“Um canal com tamanho expressivo passando informações completamente falsas e causando um grande desserviço à saúde pública. É sua responsabilidade pesquisar antes de divulgar alguma coisa e não passar informação de saúde em busca de likes ou visualizações!

Primeiro que os cigarros possuem 15 mg de nicotina em cada bastão, portanto num maço com 20 cigarros tem 300 MG DE NICOTINA e não 20 mg. De acordo com a RDC 14/2012 da ANVISA, A FUMAÇA dos cigarros que tem um limite máximo de 1 mg, portanto 20 mg num maço, mas isso é INALADO, pois dos 15 mg brutos de cada cigarro perde-se muito na inalação. Todo mundo que fala que o maço tem 20 mg de nicotina e comparada com o VALOR BRUTO de nicotina no frasco de líquidos para cigarros eletrônicos estão falando bobagem! Mas nenhum desses valores efetivamente importam, pois o que realmente deve ser levado em consideração é a absorção no sangue, que depois de inalada, a fumaça entrega 20 a 21 nanogramas por ml no organismo.

Já nos cigarros eletrônicos a maior concentração de nicotina comercialmente oferecida é de 60 mg/ml. Portanto um frasco de 30 ml tem 1800 mg de nicotina, mas não é esse valor que deve-se levar em conta! Nessa concentração uma pessoa costuma consumir 1 cartucho com 2 ml por dia, mas vamos considerar o dobro só pra exercício, então temos 4 ml x 60 mg totalizando 240 mg de nicotina bruta, menos que uma carteira de cigarro. Obviamente que na hora de inalar, assim como no cigarro, muito é perdido. Com o cigarro eletrônico o organismo absorve efetivamente apenas 16 nanogramas por ml, ou seja, 25% A MENOS de nicotina entra no sangue comparado com os cigarros, isso considerando a CONCENTRAÇÃO MAIS ALTA. A maioria das pessoas utiliza líquidos com 35mg ou menos, portanto é muito menos nicotina no sangue do que fumando.

O Acetato de Vitamina E NÃO É UM SUBSTÂNCIA PRESENTE nos líquidos para cigarros eletrônicos. Ela é super tóxica quando inalada e causou mais de 60 mortes e mais de 2500 hospitalizações nos EUA. Isso aconteceu quando várias organizações criminosas falsificaram cartuchos de THC (composto psicoativo da maconha). Essa história não teve NADA A VER com cigarros eletrônicos com nicotina e sim produtos que vaporizavam ÓLEOS DE THC! Por favor cheque suas fontes!

Chama a gente pra fazer um vídeo que explicamos tudo e corrigimos essas informações erradas que está passando. As pessoas precisam entender mais sobre cigarros eletrônicos, eles estão sendo usados para parar de fumar no mundo todo com excelentes resultados, chega de fake news!

Leiam nosso artigo completo: https://www.vaporaqui.net/cigarros-eletronicos-nao-possuem-mais-nicotina-que-o-cigarro-convencional/”

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