Um dos principais argumentos usados por quem é contra a redução de danos do tabagismo e consequentemente a regulamentação do comércio de cigarros eletrônicos no Brasil é que “são produtos da indústria tabagista”.
Apesar de falsa, essa mensagem é utilizada com bastante frequência e acaba por repercutir na grande mídia, muitas vezes transmitida por grupos e organizações relevantes na saúde pública brasileira, que possuem interesses próprios e acabam fabricando um discurso de impacto, cujo resultado está sendo criar na opinião pública uma percepção equivocada sobre os verdadeiros riscos dos vaporizadores.
Ao atrelar os cigarros eletrônicos à indústria tabagista, fica mais fácil demonizá-los e sustentar uma campanha difamatória sobre os produtos, já que o tabagismo é diretamente responsável por muitas doenças e milhões de mortes todos os anos no mundo.
Isso vem ocorrendo sistematicamente não apenas no Brasil, mas em vários lugares do mundo como nos EUA e na Europa, onde a maior parte da população geral, além de médicos e profissionais de saúde, acreditam equivocadamente que cigarros eletrônicos fazem tão ou mais mal do que os cigarros comuns, o que a ciência já demonstrou ser justamente o contrário.
A verdade é que a indústria tabagista não inventou os cigarros eletrônicos e tampouco detém a maior parte do mercado, possuindo pouco mais de 1/5 do mercado mundial, portanto considerá-los “da indústria” não tem qualquer sustentação lógica.
Os vaporizadores foram inventados em 2003 por Hon Lik, farmacêutico e engenheiro chinês não ligado à indústria tabagista. A tecnologia chegou ao mercado europeu em 2006 e no americano em 2007 e foi inicialmente desconsiderada pelas fabricantes de cigarros, que passaram a oferecer produtos de vaporização somente à partir de 2012.
Mesmo depois de quase 10 anos, de acordo com o Euromonitor International, o mercado global em 2021 ainda é dominado pelas diversas marcas chinesas especializadas na tecnologia, com uma fatia de mais de 63%, sem ter qualquer ligação com a indústria tabagista. Para correr atrás do prejuízo, as fabricantes de cigarros começaram não apenas a desenvolver seus próprios produtos, mas também a investir em marcas exclusivas de cigarros eletrônicos.
No ano de 2018 a Altria, conglomerado multibilionário dono de marcas como a Philip Morris e Marlboro, pagou 12.8 bilhões de dólares por 35% de participação na empresa Juul, uma empresa fundada na Califórnia que conquistou o mercado americano de vaporizadores após o lançamento de uma nova geração de cigarros eletrônicos batizados de PODS. A compra garantiu para a Altria, de acordo com dados de 2021, mais 14.4% do mercado global de cigarros eletrônicos.
Porém, agora a Altria está se retirando dessa participação, fazendo com que a parcela da indústria tabagista no mercado vaping caia para meros 21.6%, o que nos leva a concluir que aqueles que dizem que “cigarros eletrônicos são da indústria tabagista” estão mal informados ou sabem que estão mentindo, o que é muito pior. Os veículos de mídia que compartilham esse tipo de informação estão somente contribuindo para a agenda de terceiros e divulgando informações falsas.