O YouTube está contra o vaping

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Nos últimos tempos o YouTube tem mostrado parcialidade ao tomar decisões arbitrárias contra Youtubers que oferecem conteúdo vaping, colocando a redução de danos do tabagismo no mesmo patamar de tráfico de órgãos.

Não é a primeira vez que o YouTube demonstra falta de coerência em suas práticas, incluindo denúncias de racismo e favoritismo, como as feitas pelo Youtuber CoryxKenshin com mais de 14.5 milhões de inscritos, em um vídeo com quase 8 milhões de visualizações.

O monopólio do Youtube e suas diretrizes

O Youtube estabeleceu ao longo dos anos um verdadeiro monopólio sobre o sistema de vídeos do mundo. Não há outra plataforma mais vista ou acessada e todas as alternativas representam apenas uma fração do que ele pode entregar em visualizações e engajamento com as pessoas.

É natural que um sistema tão grande precise ter regras claras e rígidas para garantir a segurança de sua audiência. O Youtube limita o tipo de conteúdo que pode ser colocado em sua plataforma de acordo com diretrizes divididas em 5 pilares, chamados de “Regras da comunidade”: Spam e práticas enganosas, Conteúdo sensível, Conteúdo violento ou perigoso, Bens regulamentados e Desinformação.

Dentro de bens regulamentados o Youtube alerta para a proibição de conteúdo que tenha intenção de vender ou facilitar o acesso diretamente a qualquer um dos bens e serviços listados na página, que inclui nicotina e produtos vaping na mesma lista que órgãos e tráfico humano.

Portanto, entende-se que é possível publicar vídeos sobre vaporizadores desde que não exista a intenção de venda.

Se um conteúdo está fora dos padrões definidos pelo Youtube o canal pode receber um “strike”, uma punição que possui 3 fases. A primeira impede que o Youtuber publique por 1 semana. Se receber um segundo strike dentro de 90 dias a punição passa a ser de 2 semanas e se dentro de outros 90 dias houver um terceiro strike, o canal é apagado.

Além de proibir determinados conteúdos, há também um controle sobre o que efetivamente pode ser publicado, com limitações em países ou por faixa etária, os chamados vídeos para maiores de idade, que exigem que o usuário esteja conectado em sua conta e impede que o vídeo seja aberto através de outros websites, sendo obrigatório ser visto diretamente pelo Youtube.

Mas é importante salientar que a decisão de permitir a publicação de um conteúdo ou sua limitação é definida pelo próprio Youtube, o que é alvo de muita controvérsia e não tem se mostrado justo ou coerente, pois é aplicada uma dinâmica confusa e pouco informativa sobre como resolver qualquer problema.

O ataque aos canais vaping

Um exemplo disso é o caso do Youtuber Nick Green, do canal GrimmGreen, há 13 anos na plataforma e que conta com quase 400 mil inscritos. Nas últimas semanas ele foi alvo do YouTube recebendo 3 strikes em um vídeo de 8 anos atrás.

As diretrizes em relação a produtos vaping foram alteradas recentemente, proibindo a divulgação de websites ou mídias sociais que ofereçam a venda de produtos que contém nicotina, incluindo endereços na descrição do vídeo e até mesmo dentro do próprio vídeo.

Porém a plataforma já havia informado que conteúdos que não estivessem de acordo com as novas diretrizes seriam apenas apagados, sem punições diretas ao canal, uma vez que as novas regras seriam aplicadas retroativamente e haveria muito conteúdo que seria enquadrado nas novas regras, mas não foi o que aconteceu com Nick.

Pelo Twitter, ele expôs o problema no dia 13 de Outubro, recebendo apoio de pessoas que se beneficiaram do conteúdo do Youtuber e pararam de fumar passando a utilizar vaporizadores, porém até o dia 18 ele continuava limitado a apenas responder comentários e nada mais, sendo informado que havia um “time interno de especialistas” no caso.

O problema é que ao aplicar um Strike em um canal, o YouTube não é claro sobre qual é exatamente o motivo da punição e qual parte do vídeo deve ser retirada, obrigando o gerador de conteúdo a ler e interpretar as diretrizes por si mesmo, o que pode ser diferente da conclusão da plataforma.

Nick precisou editar dezenas senão centenas de vídeos praticamente sozinho, como mostra este tweet, tentando identificar todos os potenciais problemas.

É interessante notar que o Youtube permite vídeos que monetizam e sequer possuem limitação de maioridade cujo conteúdo mostra como misturar bebidas alcoólicas (vídeo com mais de 4 milhões de visualizações), como fazer bebidas coloridas (conteúdo que pode atrair crianças) e até um vídeo com mais de 1.1 milhão de visualizações publicado há mais de 2 anos de uma adolescente ensinando como enganar os pais e consumir drogas dentro de casa sem que eles saibam, sendo estes apenas alguns poucos exemplos entre tantos disponíveis.

Outro caso foi do Youtuber Daniel, do canal DJLsb Vapes, com mais de 200 mil inscritos, o gerador de conteúdo recebeu um strike por “venda de produtos ou serviços ilegais ou regulados” ao mostrar em um vídeo a caixa do produto que ele fazia uma análise técnica, em que constava o endereço do website do fabricante, este que não realiza vendas e é exclusivamente institucional. Ele apelou ao Youtube através do Twitter.

YouTube contra o Vapor Aqui

O Vapor Aqui também é alvo dessa arbitrariedade e sistema confuso que o YouTube força sobre os geradores de conteúdo. Há mais de um ano nosso canal do YouTube não pode ser monetizado, com a justificativa que se trata de “conteúdo perigoso”.

De acordo com o YouTube, “conteúdo perigoso” é “Conteúdo com substâncias ilícitas ou que promove a venda ou atos perigosos relacionados a drogas, álcool e tabaco.” Em sua página sobre o assunto, apresenta uma lista:

  • Desafios extremamente perigosos
  • Pegadinhas perigosas ou ameaçadoras
  • Instruções de como matar ou ferir
  • Fabricação ou uso de drogas pesadas
  • Distúrbios alimentares
  • Eventos violentos
  • Instruções sobre roubos ou trapaças
  • Atividades de hacker
  • Instruções de como evitar o pagamento de serviços ou conteúdo digital

Em nosso canal, falamos sobre Redução de Danos do Tabagismo (RDT), com notícias, reacts e análises de produtos de vaporização, sem intenção de venda, não oferecemos links, endereços de websites ou mídias sociais ou qualquer forma de contato com lojas, distribuidores ou fabricantes, tanto na descrição dos vídeos quanto nos vídeos em si.

Porém, repetidas vezes nos últimos meses, o Vapor Aqui tem solicitado a inscrição para monetização, cujo o resultado é sempre a negativa. No mês de Setembro, através de um post no Twitter, entramos em contato com o YouTube, que nos respondeu que nosso canal continha “conteúdo reutilizado” e este seria o motivo da negativa sobre a monetização. De acordo com o YouTube isso se refere a canais que reutilizam o conteúdo de outra pessoa sem incluir comentários originais significativos ou sem ter valor educativo.

Neste caso, foram considerados vídeos que publicamos com legendas em Português produzidas por nós. O YouTube não julga suficiente o trabalho de legenda como acréscimo ao valor original do conteúdo, portanto retiramos do ar e mesmo assim, novamente em Outubro, a monetização foi recusada.

Em um último contato através do Twitter neste mês de Outubro, o YouTube sugere de forma vaga apenas “fazer alterações no conteúdo e tentar novamente”, sem dar qualquer informação sobre como resolver o problema. Também ignorou a própria resposta dada em Setembro sobre “conteúdo reutilizado”. Ficamos sem saber o que devemos fazer para sermos elegíveis para monetização e com a sensação de ser uma perseguição ao nosso projeto unicamente porque tratamos sobre vaping.

O algoritmo do YouTube contra o vaping

Outra tendência que temos notado é uma sistemática diminuição de inscrições e visualizações de vários canais que tratam sobre vaping no mundo. Nos últimos 2 meses, o Vapor aqui perdeu 81% em resultados de pesquisa no YouTube, os espectadores visualizaram os vídeos com 63% menos frequência do que o normal nas recomendações e sites e aplicativos fora do YouTube diminuíram o tráfego em 86%.

Somando esses resultados com outros canais que também passam pelo mesmo, especula-se que o YouTube tenha alterado seu algoritmo para não recomendar conteúdo vaping em sua plataforma, resultando em uma espécie de pseudo-banimento desse tipo de assunto, impedindo que as pessoas conheçam formas menos prejudiciais para consumo de nicotina e limitando o acesso de fumantes a produtos mais seguros, impactando diretamente a saúde de milhões de potenciais ex-fumantes.

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