Mods mecânicos são perigosos nas mãos de quem não sabe o que está fazendo já que não possuem qualquer mecanismo de proteção e podem gerar acidentes graves quando utilizados de forma incorreta. Este artigo tem por objetivo informar alguns conceitos básicos dos dispositivos e alertar sobre questões de segurança. Por conta do conhecimento e vários detalhes necessários ao entendimento, é um conteúdo voltado a usuários avançados.
Conteúdo
O que são mods mecânicos ou não regulados
Os aparelhos mais usados no mercado são chamados de regulados e recebem este nome por possuir um chip de controle com diversos mecanismos de segurança como controle de potência, equilíbrio de energia, proteção de sobrecarga, entre outros, sendo ideais para novatos e pessoas que querem vaporar de forma segura e sem grandes preocupações.
Já os mods mecânicos funcionam apenas como uma embalagem de metal para as pilhas, uma vez que não possuem chip de controle, sendo basicamente um tubo de metal com um botão de acionamento. É por esse botão que se faz conexão entre o pólo negativo e o positivo da pilha, formando um circuito elétrico entre a pilha e a bobina instalada no atomizador, o que causará uma descarga de energia e o aquecimento dessa bobina.
Toda pilha ou bateria possuem limitações técnicas e sem ter um chip para oferecer sistemas de proteção, ao acionar um mod mecânico é possível que estas limitações sejam ultrapassadas e riscos de vazamento químico e até explosão são bastante reais.
Para utilizar mods mecânicos de forma segura é preciso saber como funcionam 4 coisas: um vaporizador, as bobinas, as pilhas e a Lei de Ohm.
Abaixo uma parte extraída de nosso artigo “O que é e como funciona o cigarro eletrônico” que você pode conferir na íntegra clicando aqui.
Anatomia de um cigarro eletrônico
Apesar de inúmeros modelos e opções existentes, todos trabalham de forma semelhante, sendo compostos pelos seguintes items:
- A pilha ou bateria que é a fonte de energia do produto;
- Um atomizador ou cartucho que irá servir de reservatório do líquido e que alimenta um sistema de algodão e bobina;
- O líquido que você irá consumir, com uma determinada dose de nicotina à sua escolha, podendo inclusive ser zero;
Como funciona uma bobina (coil)
Uma bobina, mais conhecida no mercado como COIL, é muito similar à uma resistência de chuveiro, sendo um fio de metal enrolado. É inserido um algodão no interior da coil para formar um sistema que puxa o líquido para o centro da coil, que ao aquecer, transforma esse líquido em vapor para ser inalado.
Os metais mais usados nas coils são normalmente FeCrAl, também conhecido pela marca Kanthal (uma mistura de Ferro, Crômio e Alumínio), Nichrome (Níquel e Crômio) ou Aço Inox.
Todo material possui a característica de ser mais ou menos resistivo à energia ou a passagem de elétrons. Ao aplicar uma carga elétrica em um metal, dependendo de sua resistência, ele irá aquecer mais rápido ou mais lentamente, porque há troca de energia por calor. Ao contrário de metais, materiais como borracha ou madeira possuem uma resistência elétrica muito grande, por isso são bons isolantes elétricos e evitam choques.
Pilhas
As pilhas utilizadas nos vaporizadores podem ser de diversos tamanhos, sendo as mais comuns as de modelo 18650, porém existem vários outros como as 18350, 20700, 21700, 26650 e outras.
Os números se referem às dimensões das pilhas, uma pilha 18650 significa que possui 18 mm de largura, 65 mm de altura e o zero corresponde ao seu formato redondo.
Utilizando as 18650 como exemplo, temos algumas características principais:
Tensão
A tensão máxima é de 4.2 volts e a nominal de 3.6/3.7 volts, mas esta última pode ser um pouco diferente dependendo do modelo.
Capacidade de carga
É a autonomia da pilha, o quanto de carga total ela possui, como o tanque de combustível de um carro. Os valores normalmente vão de 2000 mAh (miliampere hora) até 3500 mAh em média. Pilhas de lanterna (não recomendadas para vaporizadores) podem chegar a valores de 8000 mAh ou mais.
Corrente Máxima de Descarga
É a principal característica técnica de segurança. As pilhas recomendadas para uso nos vaporizadores devem possuir pelo menos 20 amperes. Dada as limitações da tecnologia atual, ainda não temos produtos que ultrapassem muito este valor sem perder a sua capacidade de carga.
Dada a química das pilhas, a capacidade de carga e a corrente máxima de descarga são características inversamente proporcionais, funcionando como uma espécie de gangorra. Se a capacidade de carga aumenta, a corrente máxima de descarga diminui. É por isso que pilhas de lanterna com 8000 mAh ou mais não são indicadas para os vaporizadores, pois elas não conseguem ter uma corrente máxima de descarga alta, ficando com valores médios de 2A até 5A.
Pilhas com 20A de corrente máxima de descarga não conseguem ter mais do que 3.000 mAh de capacidade de carga.
Lei de Ohm
A Lei de Ohm, assim designada em homenagem ao seu formulador — o físico alemão Georg Simon Ohm — afirma que existe uma relação entre corrente elétrica (conhecida popularmente como amperagem), tensão (chamada também de voltagem) e potência.
Quando aplicada nos vaporizadores, temos duas fórmulas que podemos utilizar:
Aparelhos regulados
Apesar de não ser preciso, é possível calcular a Lei de Ohm em aparelhos regulados, para isso utilizamos a fórmula “Potência em watts ÷ quantidade de baterias ÷ tensão das baterias = corrente em amperes”.
Aparelhos mecânicos
Pela falta de um chip regulador, a equação se torna: “Potência em volts ÷ resistência = corrente em amperes”.
Note que a resistência não faz parte da fórmula dos aparelhos regulados, pois o chip se preocupa com isso. Mas ela está presente na fórmula para os mods mecânicos, pois ela é sua responsabilidade já que não há chip para controlar nada, podendo ultrapassar as características técnicas máximas das pilhas.
Aplicação da Lei de Ohm na prática
Imaginando um cenário real, ao instalar uma coil em um atomizador, será necessário medir a resistência desta bobina, seja por um aparelho regulado ou por um Ohmímetro. Para este exemplo iremos considerar o valor de 0.20ohms.
Sabendo do valor da resistência, é preciso conhecer as características técnicas da pilha que será usada. Usaremos como exemplo uma Molicel P26A (a melhor pilha para este tipo de aplicação) com uma capacidade de carga de 2600mAh e uma corrente de descarga máxima estimada de 26A.
Esta pilha quando totalmente carregada possui 4.2V, portanto utilizando a fórmula da Lei de Ohm temos:
4.2V ÷ 0.20ohms = 21A
Com 21A estamos dentro da corrente de descarga máxima estimada de 26A.
Se usarmos um segundo exemplo e utilizarmos uma coil com 0.10A o cálculo fica:
4.2V ÷ 0.10ohms = 42A
Quase o dobro da corrente de descarga máxima da pilha e um grande risco de acidentes.
Outros exemplos:
A 1 ohm o cálculo fica 4.2 volts ÷ 1 ohm = 4.2 amperes
A 0.5 ohm o cálculo fica 4.2 volts ÷ 0.5 ohm = 8.4 amperes
A 0.3 ohm o cálculo fica 4.2 volts ÷ 0.3 ohm = 14 amperes
A 0.15 ohm o cálculo fica 4.2 volts ÷ 0.15 ohm = 28 amperes
É importante lembrar que a diferença física entre os valores em ohms é muito pouca, bastando apenas alguns milímetros a menos ou a mais de metal na coil para significar valores bem diferentes que podem sair da zona segura.
Pilhas em série vs pilhas em paralelo
Tanto mods regulados quanto mods mecânicos podem ser construídos utilizando baterias em série ou em paralelo. Existem diferenças importantes entre os dois tipos que veremos a seguir.
Pilhas em série
Em mods com pilhas em série, a tensão(V) das células é somada, conservando a capacidade em mAh e a descarga máxima contínua em Amperes.
Por exemplo, com duas pilhas de 4.2V, 3000mAh e 20A ligadas em série, teremos uma tensão total de 8,4V, capacidade de 3000mAh e 20A.
É por isso que a maioria dos aparelhos regulados utiliza pilhas em série, sendo muito mais eficiente já que o chip do aparelho controla a tensão de saída para o atomizador, porém a situação é diferente em mods mecânicos, onde a descarga da pilha vai direto ao atomizador, o que, devido à tensão mais alta, limita o valor de resistência que se pode usar sem ultrapassar o limite de corrente que a pilha consegue suportar.
Para mods mecânicos, utilizamos a seguinte tabela de referência entre resistências e corrente, considerando duas pilhas recém carregadas com 4.2 volts em série, totalizando 8,4V e usando a fórmula I = V/R temos:
Pilhas em paralelo
Em mods de pilhas em paralelo, a Tensão (V) do conjunto se conserva e a capacidade (mAh) e descarga contínua máxima (A) aumentam. Em mods mecânicos isso é bastante vantajoso, possibilitando que o usuário tenha uma flexibilidade maior no valor de resistência que pode ser utilizado. Porém em mods regulados essa tensão mais baixa limita a potência que o aparelho consegue atingir devido a limitações dos chips, por este motivo são poucos os modelos regulados que usam pilhas em paralelo.
Por exemplo, com duas pilhas de 4,2V, 3000mAh e 20A ligadas em paralelo, teríamos teoricamente um conjunto com 4,2V, 6000mAh e 40A. Contudo, na prática a descarga não chega a dobrar devido às diferenças de resistência interna de uma pilha pra outra (o que faz uma ser mais exigida do que a outra) e também há perda de energia nas conexões das pilhas.
Nesse caso, é convencionado o uso de uma regra simples para saber quanto é o limite de descarga em um mod mecânico com pilhas em paralelo. Basta somar a descarga de uma pilha com a descarga da próxima retirando 50% de cada pilha adjacente à primeira, como na fórmula abaixo:
Descarga contínua total = Pilha 1 + (Pilha 2 -50%) + (Pilha 3 -50%) + …
Em um mod que utilize duas pilhas de 20A de descarga contínua cada, dispostas em paralelo, temos:
Descarga total = 20A + 10A (metade da descarga da segunda) = 30 Amperes
Para mods mecânicos, utilizamos a seguinte tabela de referência entre resistências e corrente, considerando duas pilhas de 20A recém carregadas com 4.2 volts cada, em paralelo, totalizando 30A em conjunto.
Como podemos ver, é possível utilizar resistências bem mais baixas em mods mecânicos paralelos, desde que respeitados os limites e considerada uma margem de segurança.
Cuidados ao se usar mods mecânicos
Além de entender as questões básicas sobre o uso dos mods mecânicos, é preciso lembrar de tomar cuidados diversos.
Manutenção das pilhas
Quando vemos vídeos na Internet de cigarros eletrônicos explodindo, são as pilhas que sofrem a chamada fuga térmica, como pode acontecer com qualquer outro dispositivo que utilize baterias potentes, caso de celulares, tablets e outros aparelhos.
Por este motivo é importante saber lidar com elas, evitar contato com metais em bolsos e bolsas, trocar a proteção de plástico quando desgastada, entre outros cuidados, temos um artigo bem completo que fala sobre pilhas neste link.
Também temos um artigo que lhe ajuda a escolher os melhores modelos de pilhas neste link.
Coils
Como vimos, a corrente exigida das pilhas é calculada pela fórmula “Potência em volts ÷ resistência = corrente em amperes” e também sabemos que as pilhas possuem um limite máximo de quantos amperes elas podem aguentar sem comprometer sua segurança, podendo apresentar ventilação (vazamento químico) e até explosão.
Por isso é imprescindível que você saiba como instalar uma coil no atomizador e faça a medição da resistência dessa bobina antes de utilizar em um mod mecânico.
Curtos
Um curto ocorre quando uma coil instalada em um atomizador acaba encostando em algum metal do próprio atomizador, gerando uma grande variação na resistência. Essa variação pode causar um pico de stress que a pilha não consiga lidar e acabe falhando seus mecanismos de proteção, gerando vazamentos e até explosões.
Portanto, é necessário se estabelecer uma rotina de conferência de sua coil para que não acabe se desgastando com o uso, entortando ou se movimentando e entrando em contato com as partes internas do atomizador.
Para conferir o valor da resistência e a presença de curtos, você pode usar um mod regulado antes de instalar o atomizador no mod mecânico, pode usar um ohmímetro (aparelho feito para acondicionar o atomizador e ler sua resistência) ou ainda um multímetro, aquele dispositivo que a maioria dos eletricistas usam.
Quedas
Uma queda pode gerar um deslocamento da coil no atomizador, afrouxando as pernas das bobinas ou movendo-as para mais próximo das paredes dos atomizadores, contribuindo para gerar curtos que não haviam desde sua última conferência.
Baterias que recebam quedas também podem amassar e comprometer toda a sua estrutura interna, perdendo sua capacidade de segurança e de controlar os componentes químicos dentro delas, responsáveis para que tudo aconteça. Se amassadas ou com sinais de queda, sugerimos descarte imediato em local apropriado.
Mods mecânicos exigem mais disciplina do que técnica
Para alguém que nunca ouviu falar de vaporizadores, o conteúdo pode parecer bastante complicado, mas para usuários médios, nem tanto. Os conceitos tratados aqui não são extremamente complicados e podem ser aprendidos com apenas um pouco de dedicação, não é ciência aeroespacial.
Porém, não basta ter cuidado apenas na primeira utilização e sim, deve-se ter uma constante vigilância no uso, criando uma rotina que exige mais disciplina do que conhecimento.
Você deverá pensar em todas as etapas de segurança não apenas na primeira semana, nem no primeiro mês, mas durante todo o tempo em que quiser utilizar um mod mecânico.
O que pode acontecer se um desses passos não for seguido
É preciso lembrar que nem sempre as pilhas vão causar acidentes imediatamente após ultrapassados os limites de segurança, pois existe uma margem de manobra em que elas conseguem manter sua integridade. É tudo muito relativo. Os fabricantes analisam e definem valores médios, criando produtos que vão aguentar certos descuidos e exageros, mas os valores de segurança estão lá e foram pensados para serem respeitados.
Se você insistir e continuar passando dos limites, o stress gerado poderá causar problemas à curto ou médio prazo, enfraquecendo os mecanismos de proteção da pilha e tornando-a suscetível à problemas.
Sempre haverão vários momentos que nada de ruim acontece, que está tudo certo, até a hora que isso muda e no caso das pilhas, essa mudança pode ser abrupta e vir acompanhada de ácido e até fogo, cuja direção mais provável será o seu rosto.
Por que as pessoas usam mods mecânicos se dá tanto trabalho?
Você pode estar se perguntando o porquê as pessoas passam por todo esse estudo e cuidado para poder usar os mods mecânicos com segurança, já que existem os mods regulados que oferecem muito mais praticidade e tranquilidade no uso.
Os mods mecânicos são produtos de nicho, para pessoas que buscam uma espécie de experiência mais “raiz”, oferecendo controle total no uso dos vaporizadores.
Também há no mercado de mods mecânicos o apelo de serem produtos customizados, onde são aplicados materiais nobres como madeira de lei, pedraria e designs artesanais, chegando a valorizar estes produtos quase como jóias ou peças de colecionador, custando bem caro por essa exclusividade.
Do ponto de vista técnico, existe a vantagem de oferecer uma resposta de acionamento mais rápida do que nos aparelhos regulados, que por ter um chip que controla tudo no meio do caminho, oferece um atraso na resposta do botão de acionamento até a vaporização do líquido.
Muitos alegam que essa resposta mais rápida é praticamente imperceptível e que não vale o custo de ter todo esse trabalho para vaporar com segurança. Seja como for, cada pessoa tem seu estilo e contanto que você saiba o que está fazendo, poderá aproveitar a experiência sem riscos de acidentes.