Médicos continuam divulgando desinformação sobre os cigarros eletrônicos

Publicado:

Tempo de leitura: 3 minutos

No dia 02/09 o site globo.com em sua área de “saúde” publicou artigo intitulado “EVALI é uma das causas da proibição de cigarro eletrônico e vape” que trazem diversas informações erradas ou mal colocadas.

Em artigo assinado por Karine Santos, para o Eu Atleta do Rio de Janeiro, com contribuição do médico pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia Paulo Corrêa, o texto informa que a EVALI é uma “Síndrome respiratória aguda causada pelo vaping e identificada pela primeira vez nos Estados Unidos há 3 anos, ela tem tosse, dor torácica, falta de ar, febre e calafrios como alguns de seus principais sintomas.

Temos um artigo completo e detalhado sobre a EVALI com todas as evidências que comprovam que a doença nunca teve relação com os cigarros eletrônicos contendo somente nicotina, os produtos que são consumidos no Brasil.

Em resumo, tratou-se de uma intoxicação em larga escala causada por cartuchos de THC falsificados contaminados por Acetato de Vitamina E. Até hoje não há nenhum caso de EVALI no mundo que tenha sido oficialmente registrado com o uso exclusivo de cigarros eletrônicos contendo nicotina.

Após a prisão dos responsáveis e a retirada dos produtos do mercado, a doença desapareceu, comprovando que se tratou de um caso isolado nos EUA e oriundo de uma ação criminosa de contaminação.

O artigo continua com uma lista de “doenças causadas pelo vaping” sem sequer mencionar um único registro documentado que comprove as alegações.

Não é a primeira vez que médicos acusam os cigarros eletrônicos consumidos no Brasil de oferecer riscos relacionados à EVALI e outras doenças, sem qualquer comprovação científica ou casos oficiais.

O artigo continua dizendo “Os cigarros eletrônicos contam com uma alta quantidade de substâncias químicas poluídas e distintas presentes neles. Além disso, possuem alguns riscos mais específicos do que os cigarros comuns devido à temperatura do produto inalado, como explica Paulo Corrêa, pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

A declaração do médico dá a entender que a temperatura presente nos cigarros eletrônicos é um problema maior do que nos cigarros convencionais, o que é exatamente o inverso. Enquanto o vaping oferece temperaturas até 350 graus Celsius, os cigarros queimados chegam a passar dos 1000 graus Celsius, um dos motivos de seu consumo ser tão danoso à saúde.

O médico continua declarando que “Existe um filamento que esquenta o líquido que vai ser fumado. O termo “vapor” é inadequado, já que não é vapor de água, é um aerossol de quase 2 mil substâncias. Os metais que estão no filamento, incluindo níquel, latão, cobre e outros, passam para o líquido, que é transformado em aerossol. Essas partículas são muito pequenas, de modo que penetram no pulmão e caem na circulação“.

Ele provavelmente se refere à uma pesquisa realizada em Outubro de 2021 que apresentou dados de cromatografia líquida, o primeiro do tipo até então, que oferece uma análise extremamente sensível e complexa de todos os produtos e subprodutos de uma determinada amostra. Nela foram identificados quase 2000 produtos químicos ao analisar 4 tipos diferentes de cigarros eletrônicos, o que foi amplamente coberto pela mídia, de maneira muitas vezes sensacionalista.

O que o artigo (e o médico) esquecem de explicar é que não é surpreendente encontrar uma grande variedade de contaminantes orgânicos neste tipo de amostra. Na verdade, nós inalamos todo o tipo de moléculas apenas por andar nas ruas de grandes cidades ou ao usar uma churrasqueira, em qualquer ação de nosso cotidiano.

No entanto, a dose é o que importa.

Em todas as pesquisas já realizadas comparando os produtos químicos presentes nos cigarros convencionais e nos líquidos para cigarros eletrônicos, os resultados mostram quantidades centenas ou milhares de vezes menores nos eletrônicos, mostrando que não são 100% seguros, porém oferecem um impacto muito menor na saúde.

Como se isso isso não fosse suficiente para convencê-lo, a pesquisa de 2021 está recheada de falhas. Os autores fizeram tudo o que poderiam ter feito de errado: usaram material de coleta propenso à lixiviação, não explicaram como controlavam a contaminação do ambiente (amostras em branco) e usaram um protocolo de sopro completamente inadequado: testar um dispositivo de alta potência com um fluxo de ar muito baixo, onde máquinas fizeram muitas tragadas em curto espaço de tempo, condições que tornam praticamente certo o superaquecimento do dispositivo e são irreais no consumo por um ser humano. À medida que a temperatura aumenta, várias reações moleculares se tornam ativas e assim cria-se uma grande variedade de compostos.

Esta não é a primeira pesquisa que apresenta grandes falhas na metodologia, como explica nosso artigo Revisão científica de pesquisas sobre metais inalados nos cigarros eletrônicos.

Outros artigos

Comparando a saúde autoavaliada entre usuários exclusivos de cigarros eletrônicos e fumantes de cigarros tradicionais: uma análise da Pesquisa de Saúde da Inglaterra de...

Yusuff Adebayo Adebisi, Duaa Abdullah Bafail
"Esses achados sugerem que usuários exclusivos de cigarros eletrônicos percebem sua saúde de forma mais positiva do que fumantes de cigarros tradicionais, oferecendo insights úteis para as discussões sobre estratégias de redução de danos."

Os efeitos dos padrões de uso de cigarros eletrônicos sobre a carga de sintomas relacionados à saúde e a qualidade de vida: análise de...

Yue Cao, Xuxi Zhang, Ian M Fearon, Jiaxuan Li, Xi Chen, Yuming Xiong, Fangzhen Zheng, Jianqiang Zhang, Xinying Sun, Xiaona Liu
"Usuários exclusivos de cigarros eletrônicos (EC) apresentaram menos sintomas relacionados à saúde e melhor qualidade de vida (QoL) do que aqueles que eram fumantes exclusivos de cigarros convencionais (CC). Isso deve ser levado em consideração ao avaliar o potencial de redução de danos dos cigarros eletrônicos."

Novo estudo mostra mínima diferença na saúde de pessoas que usam cigarros eletrônicos sem histórico de tabagismo em comparação com quem nunca consumiu nicotina

Trabalho ajuda a entender os reais impactos menores dos cigarros eletrônicos quando usados isolados do consumo de cigarros tradicionais.

Projeto de Lei da Câmara dos Deputados pode criminalizar consumidores de cigarros eletrônicos no Brasil

PL Nº 2.158 quer tornar crime "transportar" e "armazenar" cigarros eletrônicos, sem distinção de comércio ou uso próprio, ameaçando milhões de consumidores brasileiros.

Mudança de Cigarros para Produtos de Tabaco Aquecido no Japão – Potencial Impacto nos Resultados de Saúde e Custos de Assistência Médica Associados

Joerg Mahlich, Isao Kamae
"Considerando as taxas de prevalência heterogêneas, uma abordagem única de controle do tabaco é ineficaz. O Japão deve priorizar medidas de custo-efetivo que promovam benefícios à saúde pública e econômicos. Incentivar os fumantes a trocar por produtos de risco reduzido, aumentar a conscientização sobre os riscos à saúde e adotar um modelo de tributação baseado no dano podem impulsionar mudanças positivas. Parcerias público-privadas podem intensificar os esforços de redução de danos. Com uma combinação de reformas tributárias, regulamentações revisadas, colaborações e pesquisas contínuas, o Japão pode criar uma abordagem mais eficaz e abrangente para o controle do tabaco."

Lojas de varejo de cigarros eletrônicos no México: um país que proíbe a venda

David Zepeta Hernández, Angelica Susana López Arellano, Erika Mayte Del Angel Salazar, Nazaria Martínez Díaz
"Os cigarros eletrônicos estão amplamente disponíveis e comercializados em diversos pontos de venda no México. O alto número de lojas, marcas de líquidos e cigarros eletrônicos indica o descumprimento das regulamentações existentes."

Newsletter

- Receba notícias em seu email

- Não compartilhamos emails com terceiros

- Cancele quando quiser

Últimas notícias

Transformação do mercado de produtos de tabaco no Japão, 2011–2023

Michael Cummings, Avery Roberson, David T Levy, Rafael Meza, Kenneth E Warner, Geoffrey T Fong, Steve Shaowei Xu, Shannon Gravely, Bibha Dhungel, Ron Borland, Richard J O'Connor, Maciej Lukasz Goniewicz e David T Sweanor
"Embora muitos fatores possam ser responsáveis ​​pela queda nas vendas de cigarros no Japão nos últimos 12 anos, o aumento nas vendas de HTPs parece ser um fator."

Prognóstico após a mudança para cigarros eletrônicos após intervenção coronária percutânea: um estudo nacional coreano

Danbee Kang, Ki Hong Choi, Hyunsoo Kim, Hyejeong Park, Jihye Heo, Taek Kyu Park, Joo Myung Lee, Juhee Cho, Jeong Hoon Yang, Joo-Yong Hahn, Seung-Hyuk Choi, Hyeon-Cheol Gwon, Young Bin Song
"Entre fumantes submetidos a intervenção coronária percutânea para doença arterial coronária, a mudança para o uso de cigarro eletrônico (particularmente a transição completa) ou parar de fumar foi associada à redução do risco de eventos cardíacos adversos maiores do que o uso contínuo de cigarro combustível."

Na última década o vaping salvou 113 mil vidas e economizou quase 1 trilhão de reais na economia e na saúde dos EUA

Relatório traduzido para o Português pela organização científica Direta.org mostra que o vaping tem um grande impacto positivo quando devidamente regulado.

Reino Unido proibirá vapes descartáveis, restringirá sabores e fará mais coisas estúpidas

O governo do Reino Unido decidiu que proibirá os vaporizadores descartáveis ​​e sugere que proibirá os sabores dos vaporizadores. Isto irá desencadear mais tabagismo, mais comércio ilícito e mais soluções alternativas.

9 fatos e mitos sobre o vaping de acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido

Menos prejudiciais do que fumar, ajudam contra o tabagismo, menos nicotina que os cigarros e outros fatos que o Brasil ignora sobre o vaping.