Médico compartilha vídeo com informações incorretas sobre cigarros eletrônicos

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Atualizado em 24/10/2023: O vídeo passou a ser privado e não está mais disponível no Youtube.

O médico Daniel Coriolano, residente em medicina de família e mestre em SF com linha de pesquisa Educação em Saúde, em seu canal do Youtube “Daniel Coriolano | Ei, DOUTOR!”, publicou um vídeo em 15 de Maio de 2023 tratando dos cigarros eletrônicos, compartilhando informações inadequadas sobre o assunto. Neste artigo, vamos tratar de cada ponto e trazer evidências científicas para esclarecer o que é informado.

A promessa de que “não são prejudiciais à saúde”

No vídeo o médico começa dizendo que existiu uma promessa de que os produtos não são prejudiciais à saúde. Essa é uma afirmação falsa. Qualquer agente interessado no tema que seja minimamente informado, não faz essa alegação. Nem os fabricantes de cigarros eletrônicos utilizam deste argumento, até porque ele é notoriamente falso. Cigarros eletrônicos possuem um risco muito menor comparado ao fumo, porém não são isentos de potenciais danos à saúde.

Parece que essa estratégia surgiu de agentes contrários à regulamentação do vape, para tentar criar uma declaração que nunca existiu por parte de quem defende a Redução de Danos do Tabagismo, para assim fabricar uma narrativa que pode ser facilmente atacada.

Cigarros eletrônicos não seriam menos prejudiciais do que fumar

Outra informação falsa, já amplamente comprovada pela ciência. O King’s College of London, organização que foi a primeira no mundo a dizer que os cigarros convencionais causavam câncer na década de 60, fizeram a maior revisão científica até o momento, publicada no ano passado, com mais de 400 estudos revisados e concluíram que o vape é PELO MENOS 95% MENOS PREJUDICIAL do que fumar.

Mas isso só pode ser dito em mercado regulados. Por enquanto, aqui no Brasil, tudo que é consumido vem do contrabando, sem nenhuma regra ou fiscalização sanitária, portanto os produtos podem ser tão ou mais prejudiciais do que fumar, por isso é tão importante que a proibição do comércio seja alterada para uma permissão sobre regras claras e rígidas de venda, fabricação e importação.

Há um projeto de lei tramitando no Senado que busca uma regulamentação adequada sobre os produtos, de número 5008 e autoria da senadora Soraya Thronicke (PODEMOS/MS). Você pode acessar o texto e votar SIM para apoiar o projeto.

Inalação dos metais pesados das baterias?

O médico alega que os produtos podem oferecer risco pela inalação dos metais pesados das baterias.

O vazamento de metais pesados das baterias é uma informação tão falsa que é pouquíssimo usada até por quem é contra os produtos, pois não faz qualquer sentido no mundo real.

Uma bateria não funciona se estiver vazando, é química e fisicamente impossível. Baterias são objetos blindados e hermeticamente fechados, para que a reação química que gera energia possa ocorrer. Se houver vazamento, a bateria para de funcionar imediatamente e a “inalação de metais pesados” é um problema impossível de existir, já que uma bateria que vaza além de parar de funcionar, em poucos segundos pode pegar fogo e até explodir.

Essa alegação só demonstra um entendimento muito superficial sobre o assunto.

Não ajudam a parar de fumar?

Os cigarros eletrônicos são considerados o método para parar de fumar mais eficaz no momento, mais do que adesivos, gomas de mascar e remédios. Quem diz isso é a Biblioteca Cochrane, organização padrão ouro de revisões científicas de acordo com a Organização Mundial da Saúde, com milhares de voluntários e que não recebe financiamento de nenhuma parte que possa gerar conflito de interesses, que declarou com alto grau de certeza (nível máximo de confiança) que os cigarros eletrônicos são o método atual mais eficaz para se parar de fumar.

Os países que regulamentaram o comércio dos produtos estão vendo exatamente isso, estatísticas de países como Canadá, EUA, Inglaterra, Nova Zelândia e muitos outros (são mais de 110 que regulamentam o vape) mostram que os dados demográficos dos fumantes estão caindo na mesma proporção que os consumidores de vape estão aumentando, são adultos fumantes que está trocando os cigarros pelo vape, mostrando que os cigarros eletrônicos são eficazes e uma porta de saída do tabagismo.

Mais nicotina do que nos cigarros

Outra informação incorreta é a comparação na entrega de nicotina entre os cigarros eletrônicos e os cigarros convencionais. Temos um extenso artigo revisado por pares que apresenta em detalhes todas as informações sobre o assunto. Em resumo, em mercados regulados, os cigarros eletrônicos possuem limitação de nicotina com no máximo 60 mg/ml. Esse valor é BRUTO e muitas vezes comparado com o valor diluído da nicotina dos cigarros, presente na fumaça. Essa conta é completamente equivocada, como comparar bananas com maçãs.

Muitos profissionais de saúde não entendem como funciona a diferença entre nicotina bruta, nicotina na fumaça e nicotina absorvida. Todos os estudos sobre absorção de nicotina comparando o vape com os cigarros convencionais mostra uma absorção muito menor nos cigarros eletrônicos. Mesmo na maior concentração oferecida, de 60mg/ml no líquido, a absorção é 25% a 30% MENOR no vape do que nos cigarros.

Mais uma vez a EVALI é mencionada para o vaping brasileiro

Apesar de ser um caso bem documentado, com informações oficiais do Governo Americano, a EVALI ainda é tratada por muitos profissionais de saúde como uma doença ligada aos cigarros eletrônicos como um todo, o que é falso.

A EVALI não é uma doença causada pelos cigarros eletrônicos e sim um caso de contaminação pontual e já solucionada, causada por um produto tóxico usado por organizações criminosas dos EUA para diluir produtos falsificados de óleo da maconha.

Temos um artigo completo sobre o caso, mas em resumo, a EVALI – E-Cigarette or Vaping Product Use-associated Lung Injury foi uma doença que hospitalizou mais de 2800 pessoas e causou a morte de outros mais de 60 pacientes nos Estados Unidos entre 2019 e 2020.

Após investigações lideradas pelo CDC – Center for Diseases Control and Prevention, órgão americano responsável por tratar de qualquer ameaça à saúde do país, foi descoberta a causa, o Acetato de Vitamina E, um produto tóxico quando inalado e presente em todas as amostras de pacientes que sofreram com a condição.

Ao buscar a origem do problema, o Acetato de Vitamina E foi encontrado exclusivamente em produtos falsificados de óleo concentrado de THC, substância psicoativa da maconha. Nos EUA o consumo de maconha é permitido em diversos estados e desde 2012 são comercializados vaporizadores específicos para o consumo de um óleo concentrado do produto, que até então não havia apresentado qualquer problema em seu consumo, até o surgimento da EVALI.

Apesar de compatíveis, os produtos para consumo de THC são fundamentalmente diferentes daqueles utilizados em larga escala no Brasil, que possuem exclusivamente nicotina. A única coisa em comum entre os produtos é o uso do sistema de vaporização.

Cartuchos tanto de nicotina quanto de óleo de THC podem ser usados no mesmo aparelho

A regulamentação do consumo de maconha nos EUA não é federal e sim estadual, com muitos estados permitindo a venda e o consumo, inclusive recreativo, tanto da erva quanto de subprodutos como os óleos concentrados de THC. Nestes estados a fabricação e a oferta são realizados sob regras claras de segurança e fiscalização sanitária. Em contrapartida, muitos estados proíbem a venda e o consumo, o que resulta em um ambiente propício para o comércio ilegal.

E foi exatamente através de uma iniciativa criminosa, sem qualquer conhecimento técnico adequado ou preocupação com a segurança dos consumidores, que o Acetato de Vitamina E foi como diluente na fabricação de cartuchos falsificados de THC, devido ao seu baixo custo.

“Vaping Bad: Eram dois irmãos de Wisconsin os Walter Whites do óleo de THC?”

Após as prisões e com mais informações coletadas, o CDC divulgou nota oficial atrelando a doença EVALI exclusivamente à presença de Acetato de Vitamina E nos cartuchos de THC falsificados, o que deixou claro que não houve qualquer responsabilidade dos produtos de cigarros eletrônicos que utilizavam líquidos exclusivamente com nicotina.

Para se colocar em perspectiva, é quase certo que ainda hoje existam cartuchos de THC sendo falsificados nos EUA, mas como tais iniciativas criminosas aprenderam com o erro e não utilizam mais o Acetato de Vitamina E para diluir os produtos, não foram registrados mais casos de EVALI, afinal de contas é bem diferente arriscar ser preso por falsificação de produtos do que ser responsável por hospitalizações em massa e dezenas de mortes.

Durante a crise, um total de 84% dos pacientes acometidos pela doença admitiu terem usado produtos contendo THC, porém 16% declararam que fizeram uso exclusivo de produtos com nicotina. Isso no início das investigações contribuiu muito para que a doença fosse ligada aos cigarros eletrônicos como um todo, independente do tipo de líquido consumido. O fato da EVALI ter direta ligação com produtos ilegais justifica o motivo de alguns pacientes terem declarado o uso exclusivo de nicotina, caso contrário estariam admitindo um crime.

O Dr. Scott Aberegg, médico pneumologista da Universidade de Saúde de Utah que tratou muitos pacientes de EVALI, fez uma declaração muito interessante em entrevista para a CNBC sobre o assunto:

“É capaz que existam apenas dois tipos de pessoa que contraem esta doença: aqueles que usaram cartuchos de THC e aqueles que não admitem.

DR. SCOTT ABEREGG, PNEUMOLOGISTA DA UNIVERSIDADE DE SAÚDE DE UTAH

Até hoje não há nenhum caso documentado de EVALI em pacientes que utilizaram exclusivamente produtos para vaporização contendo somente nicotina.

O próprio CDC divulga em seu site oficial que “Os cigarros eletrônicos têm o potencial de beneficiar fumantes adultos que não estão grávidas se forem usados ​​como substitutos completos dos cigarros comuns e de outros produtos de tabaco fumados.”

Um excelente documentário que pode ser consultado sobre o assunto é o “Vaping Demystified” produzido por um instituto de pesquisa sobre o Câncer na Inglaterra.

Cientistas do mundo todo já foram à público solicitar aos EUA que corrijam o nome EVALI, cuja sigla causa desinformação à respeito das reais causas da doença, em uma carta assinada por 75 especialistas.

Um artigo de Clive Bates discorre em detalhes sobre todos os problemas acerca da EVALI e sugerimos a leitura.

“A atribuição do vaping de nicotina como causa do EVALI deve parar. O termo EVALI é enganoso e deve ser retirado e substituído. Os comunicadores de risco devem assumir sua responsabilidade de corrigir as falsas percepções residuais de risco. Deve haver uma investigação objetiva sobre como o EVALI foi tratado.”

Clive Bates, ex-funcionário público sênior e diretor de ação sobre fumo e saúde do Reino Unido

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