INCA – Instituto Nacional de Câncer – divulga informações falsas no jornal O GLOBO

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Em um artigo publicado hoje, Segunda-feira dia 10/02/2020 no jornal O GLOBO, a coordenadora de Prevenção e Vigilância do INCA Sra. Liz Almeida e a diretora-geral do INCA Sra. Ana Cristina Pinho, escrevem texto sobre cigarros eletrônicos contendo falácias e muita desinformação.

Já é de praxe encontrar verdadeiras atrocidades em veículos de mídias, principalmente afiliados à Rede Globo, com notícias feitas por jornalistas despreparados sem qualquer pesquisa ou fontes de credibilidade passando informações erradas sobre os cigarros eletrônicos, causando pânico e afastando a opinião pública de produtos que poderiam salvar vidas.

Mas a situação piora muito quando ditos “profissionais de saúde”, principalmente de uma entidade que deveria lutar contra o câncer, parecem de fato querer espalhá-lo através de muita desinformação.

O texto defende 5 pontos que são rapidamente desconstruídos pelo senso crítico ou em 15 minutos ou menos de pesquisa no Google.

A) Quem migra para o DEF continua dependente.
Eles chamam os cigarros eletrônicos de DEF (dispositivos eletrônicos para fumar) apesar de não haver nenhum relação entre usar um cigarro eletrônico e fumar, já que não há combustão, não existe tabaco e a única relação é realmente a nicotina, que é um agente viciante. O que convenientemente “esquecem” de dizer é que o vício de nicotina não causa câncer, o que causa é o consumo de cigarros.

B) Inalam-se produtos nocivos como formaldeído, acroleína, nitrosaminas, metais pesados, saborizantes
Argumento contendo um monte de falácias.

Formaldeído só é produzido quando um cigarro eletrônico é usado de forma totalmente fora de seus padrões normais e em condições irreais de uso. Os estudos que indicaram a presença de formaldeído foram feitos utilizando máquinas e não humanos que utilizavam os aparelhos de forma muito além do possível e portanto queimavam as substâncias ao invés de vaporizá-las corretamente.
Fonte de pesquisa 1
Fonte de pesquisa 2

Acroleína é uma substância muito ruim causadora de câncer e ela está presente tanto nos cigarros quanto nos charutos, narguiles e também nos cigarros eletrônicos. A grande questão é que os cigarros eletrônicos produzem apenas 1% da quantidade de acroleína presente nos cigarros comuns, por isso são considerados de 95% a 99% menos prejudiciais, mas não são 100% seguros nem saudáveis, coisa que ninguém alega que são, nem quem fabrica e muito menos quem usa.
Fonte de pesquisa

Nitrosaminas são componentes que podem causar câncer quando em altas doses, isso é verdade. Porém, mais uma vez a informação é dada só pela metade. É impossível se livrar totalmente das nitrosaminas e elas estão presentes em muitas coisas que consumimos diariamente como bebidas, comidas e até na água, porém em baixas quantidades, portanto não há problema. As nitrosaminas encontradas nos líquidos para cigarros eletrônicos possuem nível quase igual aos adesivos de nicotina, que o INCA e outras entidades de saúde indicam para se usar para parar de fumar.
Fonte de pesquisa

Metais pesados foram realmente encontrados nos cigarros eletrônicos, porém em apenas duas pesquisas feitas em 2015 e em 2018. Mais uma vez é uma informação entregue de forma conveniente sem explicar o contexto. Ambas as pesquisas foram desacreditadas por especialistas da comunidade científica porque os níveis encontrados estavam muito abaixo do máximo permitido e a metodologia usada nos testes não condizia com a realidade de uso por um ser humano, sendo sua metodologia falha.

Saborizantes já foram amplamente estudados em várias pesquisas com diferentes métodos e análises, apresentando diferentes resultados, tanto positivos quanto negativos do ponto de vista de segurança. Uma das mais recentes, feitas em Julho de 2019 atualizou as análises feitas até então e demonstrou que apesar de haver algumas exceções, a maioria esmagadora dos líquidos com sabores apresentam níveis muito menores do que os necessários para serem considerados tóxicos.
Fonte de pesquisa

C) Os cigarros eletrônicos são uma estratégia da indústria tabagista para atrair jovens
Isso até poderia ser verdade se a indústria tabagista tivesse sido a inventora dos produtos, o que não foi. Os cigarros eletrônicos foram inventados por um fumante chinês chamado Hon Lik em 2003 porque ele viu o pai morrer de câncer de pulmão decorrente do tabagismo. De lá pra cá os produtos conquistaram o mundo sem qualquer grande empresa por detrás deles, chegando à Europa em 2006 e nos EUA em 2007.

Somente em 2012 a indústria tabagista começou a investir no ramo e até 2018 a esmagadora maioria dos aparelhos de cigarros eletrônicos, 95% do total, ainda eram fabricados na China.

No Brasil o uso dos dispositivos iniciou em meados de 2008 e seu comércio foi proibido pela ANVISA em 2009 por considerar que não haviam estudos que comprovassem sua segurança. Apesar disso seu uso ou posse são permitidos o que criou um mercado negro que explodiu à partir de 2015 oferecendo todos os tipos de produtos principalmente através da internet. Deste mercado informal, são raríssimos os casos de oferta de cigarros eletrônicos oriundos da indústria tabagista que não tem nenhuma fatia relevante do mercado brasileiro.

D) Diminuição do número de fumantes na casa dos 60%
Argumento baseado em estatísticas completamente defasadas. As entidades de saúde baseiam o “sucesso” da política antitabagista do Governo Brasileiro nos números levantados pela VIGITEL, órgão do Ministério da Saúde responsável por pesquisar entre outras coisas o índice de obesidade e tabagismo no país. Este órgão indica 9.3% de fumantes em 2018.

O grande problema é que o banco de dados utilizado pelo órgão para fazer a pesquisa é exclusivamente de telefones fixos, cujos números atuais são os menores de toda a história, com pouco mais de 36 milhões de linhas ativas (incluindo empresariais, funcionais e outras que não são residenciais). O próprio O GLOBO que já noticiou que os telefones fixos podem se tornar raridade no Brasil já em 2021, portanto os números que temos de fumantes no país são resultado de uma pesquisa que não condiz com a realidade.

Em um artigo da revista EXAME uma pesquisa do Datafolha feita no meio do ano de 2018 indicou que o número mais correto estaria na casa dos 16% de fumantes brasileiros.

De acordo com o IBGE a população brasileira é de pouco mais de 211 milhões de pessoas sendo 75.2% de acima de 18 anos, o que resulta em 158.747.200 de adultos. De acordo com o INCA teríamos 14.7 milhões de fumantes, porém de acordo com a pesquisa do Datafolha, feita com uma metodologia mais moderna, temos na verdade mais de 25 milhões de fumantes.

Site do Ministério da Saúde que explica como a Vigitel funciona e mostra a metodologia de só ligar para telefones fixos
O Globo – Aparelho fixo pode se tornar raridade no pais em 2021
EXAME – Fumantes representam 16% da população adulta
IBGE – Estatísticas de faixa etária da população brasileira
IBGE – Projeção da população brasileira

F) Os cigarros eletrônicos foram responsáveis pela EVALI, doença que matou e hospitalizou americanos
Informação completamente mentirosa, já que o próprio CDC – Center for Disease and Control, órgão máximo de sáude americano já esclareceu em seu site oficial que a epidemia chamada EVALI foi causada por uma contaminação de Vitamina E em cartuchos falsificados de líquidos concentrados de THC, produtos completamente diferentes dos cigarros eletrônicos que contém nicotina.

Quando a epidemia surgiu, o CDC foi lento em esclarecer ao público que não havia provas ligando os cigarros eletrônicos à EVALI o que alastrou pânico por todo o mundo levando o Governo dos EUA a tomar medidas restringindo os produtos de cigarro eletrônico, fazendo milhares de pessoas voltarem a fumar e prejudicando o mercado americano. Apenas com o passar do tempo e sem conseguir uma única vítima que pudesse comprovar o uso exclusivo de cigarros eletrônicos com nicotina é que o CDC retirou o aviso de se evitar esses produtos e passou a informar que o caso é ligado somente aos cartuchos de THC falsificados e contaminados com Vitamina E.

Além de mentirosa e defasada, a informação confunde o leitor e coloca os cigarros eletrônicos como produtos com potencial de morte, causando um completo desserviço à população fumante brasileira que poderia se beneficiar em trocar o cigarro convencional pelo eletrônico.
Fonte 

A página oficial do INCA no Facebook é
https://www.facebook.com/Instituto-Nacional-de-C%C3%A2ncer-INCA-168676986532695/

O artigo segue com o seguinte texto:

ARTIGO – LIZ ALMEIDA E ANA CRISTINA PINHO

O glamour ficou no passado, e hoje o cigarro é associado à morte. Diante do declínio nas vendas, a indústria de cigarros lançou dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), que apresenta como um substituto “mais seguro” para a saúde.

Os DEFs podem ser de vários tipos e incluem cigarros eletrônicos, cigarros aquecidos e vaporizadores de ervas secas. Funcionam com bateria, que aquece o conteúdo e produz um aerossol, normalmente com nicotina, a mesma droga que causa a dependência aos cigarros tradicionais. Quem migra para o DEF continua dependente.

Além da nicotina, inalam-se produtos nocivos, como formaldeído, acroleína, nitrosaminas, metais pesados, saborizantes, além de outras substâncias. Esses produtos causam doenças pulmonares e cardiovasculares e câncer.

O objetivo da indústria com os DEFs é facilitar a iniciação de jovens ao tabagismo e levar à dependência da nicotina, recuperando a fatia de mercado que perdeu. De tamanhos e formas que passam despercebidos, com sabores adocicados e marketing nas mídias sociais, tudo é feito para seduzir o jovem.

Nos EUA, a estratégia deu certo. Um cigarro eletrônico no formato de pen drive virou uma coqueluche nas escolas, onde os estudantes consomem cartuchos com a quantidade de nicotina igual à de um maço de cigarros.

O Centro de Controle de Doenças, nos EUA, registrou ano passado 2.291 casos com 48 mortes por uma nova doença pulmonar grave (Evali), que provoca intensa falta de ar, dor no peito, febre, náuseas e vômitos. Todos os doentes usaram cigarros eletrônicos. No Brasil já há três casos suspeitos da doença.

As ações de controle do tabaco em nosso país levaram à redução de 60% no número de fumantes em três décadas e pouparam milhares de vidas. Os DEFs ameaçam essa conquista e colocam em risco as novas gerações.

Diante desse cenário, o Inca faz um alerta à população e reafirma seu apoio à manutenção da resolução da Anvisa que proíbe a comercialização, a importação e a propaganda dos DEFs no Brasil.

Liz Almeida: é coordenadora de Prevenção e Vigilância do Inca; Ana Cristina Pinho é diretora-geral do Inca

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