O Health Canada, órgão de saúde do governo do Canadá, atualizou sua postura sobre o vaping para refletir as evidências científicas mais recentes e apoiar os produtos alternativos para consumo de nicotina com risco reduzido como uma ajuda para adultos fumantes a parar de fumar.
Em 2018, os cigarros eletrônicos contendo nicotina se tornaram um produto de consumo adulto no Canadá e são vendidos amplamente em lojas especializadas, lojas de conveniência, postos de gasolina e online. A Lei Canadense de Produtos de Tabaco e Vaping foi revisada no ano passado e os conselhos do governo foram atualizados no site da Health Canada em fevereiro de 2023.
É um grande contraste com a política brasileira, baseada em uma proibição desde 2009.
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Parar de fumar
O Health Canada afirma que “a vaporização da nicotina pode ajudar os adultos a parar de fumar” e “pode ajudar uma proporção maior de pessoas a parar de fumar do que a terapia de reposição de nicotina (TRN) ou apenas o aconselhamento”. Isso é baseado no feedback de vapers, acadêmicos, grupos de saúde pública e indústria e nas evidências científicas.
A Revisão Cochrane de 2022 afirma que “‘há evidências de alta certeza de que os cigarros eletrônicos com nicotina aumentam as taxas de abandono em comparação com a NRT”. Esta conclusão é apoiada por evidências de serviços para parar de fumar no Reino Unido, estudos observacionais, estudos populacionais e declínios nas taxas nacionais de tabagismo.
Segurança
A questão-chave para os fumantes é o “risco relativo” – se o vaping é mais seguro do que fumar. O Health Canada afirma que “os pesquisadores já estabeleceram que mudar completamente para o consumo de nicotina pelos cigarros eletrônicos é menos prejudicial do que continuar fumando”, com base nas descobertas do que acontece com os fumantes que mudam:
- Há uma redução imediata na exposição a produtos químicos nocivos;
- Ocorrem melhorias gerais de saúde a curto prazo;
- Não passam por efeitos indesejados graves.
Isso ocorre porque “os produtos vaping produzem apenas uma pequena fração dos produtos químicos encontrados na fumaça do tabaco, bem como níveis mais baixos de alguns dos potencialmente prejudiciais”. Eles reconhecem que “os riscos a longo prazo da inalação dessas substâncias são desconhecidos e continuam a ser pesquisados”.
Já no Brasil ainda há o uso da fala de que “não há pesquisas suficientes para estabelecer a segurança dos produtos” ou ainda que “não há comprovação de menor risco ou de auxílio no combate ao tabagismo”, ambos argumentos muito usados por organizações privadas contrárias a uma regulação do comércio dos cigarros eletrônicos no Brasil.
EVALI
A EVALI (E-cigarette Vaping Associated Lung Injury) é uma doença pulmonar grave que ocorreu nos EUA de 2019 a 2020 causada por produtos de vaporização não regulamentados, que continham tetra-hidrocanabinol (THC), provenientes do mercado ilegal. Estes produtos falsificados e ilegais estavam contaminados com acetato de vitamina E, o que causou a morte de mais de 60 pessoas e a hospitalização de outras mais de 2.500. Nenhum caso de EVALI foi registrado pelo uso exclusivo de cigarros eletrônicos contendo nicotina. Temos um artigo extenso sobre o assunto que explica em detalhes o que ocorreu.
Ainda assim, várias organizações brasileiras continuam afirmando que a EVALI tem relação com os cigarros eletrônicos consumidos no Brasil, na tentativa de causar medo e espalhar desinformação que dificulte um debate técnico e científico, tratando de uma potencial regulamentação que permita o comércio dos produtos no país.
Uso duplo
O Health Canada afirma corretamente que “Durante a transição de cigarros para vapes de nicotina, as pessoas podem passar por um período de uso de ambos os produtos – isso é conhecido como uso duplo. Só pare de fumar quando tiver certeza de que não voltará a fumar”.
Em outras palavras, o uso duplo é um estágio temporário para muitos fumantes ao mudar e muitos passam para o vaping exclusivo.
Organizações contrárias ao vaping no Brasil interpretam mal o uso duplo. Dizem que o uso duplo não é uma maneira segura de melhorar a saúde e (incorretamente) afirmam que “usuários duplos podem se expor a níveis ainda mais altos de tóxicos em comparação com pessoas que usam apenas produtos de tabaco convencionais” quando as evidências mostram que a maioria dos usuários duplos fumam menos cigarros e reduzem substancialmente a exposição a substâncias tóxicas.
Uma política sensata é necessária no Brasil
A revisão canadense mostra que o Brasil mantém uma estrutura regulatória altamente restritiva que difere de outros países, impedindo que milhões de fumantes possam mudar dos cigarros mortais para produtos de considerável menor risco.
Esta política também criou um próspero mercado ilegal que não oferece qualquer garantia de qualidade ou controle sanitário a milhões de consumidores de cigarros eletrônicos, com um uso indiscriminado por jovens que é especialmente preocupante.
Dr. Colin Mendenlsohn, especialista em controle de tabaco e redutor de danos da Austrália recentemente publicou um guia revisado por pares sobre como o vaping deve ser regulamentado. Quanto mais cedo um modelo como esse seja introduzido no Brasil, mais cedo os fumantes terão acesso legal a produtos de vaporização regulamentados para parar de fumar e mais cedo o desastre do vaping juvenil será controlado.
Referências
Dr. Colin Mendelsohn
https://colinmendelsohn.com.au/canada/
Canadá
Riscos de vaping. Saúde Canadá 2023
Relatório da primeira revisão legislativa do Tobacco and Vaping Products Act 2022. HealthCanada 2023
O que ouvimos reduzindo o acesso dos jovens e o apelo dos produtos vaping. HealthCanada Dez 2019
Atualização sobre vaping no Canadá. Blog do Dr João. 4 de abril de 2023