Em Abril de 2021 a Biblioteca Cochrane revisou 56 estudos e concluiu, com um nível “moderado” de certeza, que os DEFs – Dispositivos Eletrônicos para Fumar, também conhecidos como cigarros eletrônicos, são mais eficazes ao ajudar pessoas a parar de fumar quando comparados com adesivos e gomas de mascar de nicotina.
Em sua nova revisão publicada em 17 de Novembro de 2022, a instituição chegou a mesma conclusão, porém aumentou o seu nível de certeza para “alto”, nível máximo de seu sistema de revisão e análise.
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O que é a Biblioteca Cochrane?
A Biblioteca Cochrane é uma das instituições mais respeitadas e confiáveis do mundo no campo de revisões sistemáticas e meta-análises, que resumem e interpretam os resultados de pesquisas no campo da saúde. Ela tem sido comparada com o Projeto Genoma Humano, pela importância que tem e terá nas futuras gerações em relação à atenção à saúde.
Composta por uma rede global independente de pesquisadores, profissionais, pacientes, cuidadores e pessoas interessadas em saúde, que conta com mais de 37 mil voluntários, de mais de 130 países ao redor do mundo, dedicados a realizarem revisões sistemáticas para apresentação da melhor evidência científica disponível, com o objetivo de ajudar a tomada de decisão nas diversas áreas da saúde.
O próprio NIH – National Institute of Health, o maior centro de pesquisa biomédica do mundo que compõe o Departamento Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, considera a Biblioteca Cochrane de alto padrão “especialmente dada a natureza não remunerada e voluntária do trabalho”, o que a torna uma fonte de conteúdo independente e livre de conflitos de interesse.
A Cochrane adota o sistema GRADE (Grades of Recommendation, Assessment, Development and Evaluation) que surgiu em 2000 através de uma colaboração de pesquisadores, epidemiologistas e estatísticos que tinham como objetivo uniformizar os sistemas de graduação dos níveis de evidência e recomendações existentes. Este sistema é utilizado por mais de 60 organizações e Sociedades internacionais entre elas: a Organização Mundial da Saúde, Sociedade Torácica Americana, Sociedade Endócrina Americana, Sociedade Respiratória Européia e muitas outras.
No sistema GRADE existem quatro níveis de certeza em relação ao corpo de evidências apresentado: alto, moderado, baixo e muito baixo.
DEFs ajudam a parar de fumar – nível máximo de confiança
Os DEFs receberam em Abril de 2021 uma revisão da Biblioteca Cochrane de 56 estudos com um total de 12.804 participantes, sendo 29 deles ensaios controlados aleatórios. A conclusão foi de que “Há evidências de certeza moderada de que DEFs com nicotina aumentam as taxas de abandono (do tabagismo) em comparação com DEFs sem nicotina e em comparação com TRN (Terapia de Reposição de Nicotina composta de adesivos e gomas de mascar).”
Em sua nova revisão publicada em 17 de Novembro de 2022 a instituição aumentou o seu nível de certeza para “alto”, nível máximo do sistema GRADE de confiabilidade e qualidade das conclusões.
“Há evidências de ALTA CERTEZA de que DEFs com nicotina aumentam as taxas de abandono (do tabagismo) em comparação com TRN (Terapia de Reposição de Nicotina composta de adesivos e gomas de mascar).“
No Brasil profissionais de saúde ignoram evidências científicas
O Brasil continua enfrentando uma guerra contra os DEFs ou cigarros eletrônicos, com a grande mídia dando espaço somente a uma única narrativa que é controlada por instituições como FIOCRUZ, INCA, ACT – Promoção da Saúde dentre outras, que continuam ignorando as evidências científicas de que os DEFs ajudam as pessoas a parar de fumar.
Esse movimento parece ter influenciado a equipe técnica da ANVISA, que este ano apresentou um relatório que sugere manter a RDC 46/2009, normativa que proibiu o comércio, importação e propaganda dos DEFs.
A decisão pela proibição há mais de 13 anos atrás permitiu que fosse criado um ambiente propício ao mercado ilegal e ao contrabando, pois mesmo sem poder comercializar, muitas tabacarias, casas de show, distribuidoras de bebidas, lojas especializadas e até postos de gasolina oferecem estes produtos, sem qualquer fiscalização sanitária ou controle da qualidade.
A ANVISA ainda não tomou uma decisão final, que ficará a cargo do relator e também diretor-presidente da agência, Sr. Antonio Barra Torres. O mais provável é que seja seguida a recomendação do relatório para manter a proibição, mas o relator declarou que ainda está indeciso e que pode optar por outro caminho, desde que tenha subsídios concretos que fundamentem essa escolha.
Este novo relatório da Biblioteca Cochrane pode ser uma peça fundamental nesse processo.