O relatório Covitel 2023 coletou informações de 9 mil pessoas, com 18 anos ou mais, entre janeiro e abril de 2023, e traz informações de âmbito nacional, com representatividade para o Brasil e para as cinco grandes regiões do país, com dados importantes sobre os cigarros eletrônicos e hábitos de consumo dos usuários.
O chamado Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia é produzido pela Vital Strategies, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Umane e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
A Vital Strategies é uma organização fundada pela Bloomberg, uma das maiores organizações do mundo, cuja pauta é publicamente contrária à regulamentação do comércio de cigarros eletrônicos em qualquer país, prática que é acusada por especialistas mundiais no controle do tabaco como uma forma de paternalismo e lobby que tenta influenciar governos, comprometendo a soberania nacional, como aconteceu recentemente com as Filipinas.
No website – tobaccocontrolgrants.org – consta o texto “Desde 2005, a Bloomberg Philanthropies comprometeu mais de 1,58 bilhões de dólares para apoiar uma iniciativa para reduzir o consumo de tabaco em países de baixo e médio rendimento. Uma prioridade da Iniciativa Bloomberg para Reduzir o Uso do Tabaco é um Programa de Subsídios gerido e administrado conjuntamente pela Vital Strategies ( VS ) e pela Campaign for Tobacco-Free Kids ( CTFK ).”
Como vimos em nossa reportagem que identifica quem é contra o comércio de vapes no país, várias organizações nacionais famosas nesse debate, já receberam fundos internacionais originados da Bloomberg, cujo total pode ter chegado a R$ 25 milhões de reais.
Por aqui, a Vital Strategies enviou contribuição em vídeo para a 19º reunião da Anvisa no dia 01 de Dezembro apoiando o banimento dos cigarros eletrônicos, legislação que está em discussão e foi colocada em consulta pública.
O relatório Covitel foi realizado pela primeira vez em 2022, para contribuir com a geração de dados sobre o comportamento da população brasileira quanto aos fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que são a maior causa de morte no mundo. Assim como no ano passado, a edição de 2023 traz informações sobre prática de atividade física, hábitos alimentares, saúde mental, estado de saúde, prevalências de hipertensão arterial e diabetes, consumo de álcool e tabagismo.
De acordo com o relatório, “a prevalência de experimentação de cigarro eletrônico no Brasil foi de 7.3% (IC95% = 6.0;
8.9) no primeiro trimestre de 2022 e 8.0% (IC95% = 5.7; 11.1) no primeiro trimestre de 2023. As análises que constam nesta seção consideram o número estimado de pessoas que usam ou já usaram cigarro eletrônico (cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil, no primeiro trimestre de 2023).”
O principal motivo apontado para a utilização de cigarro eletrônico foi “para experimentar ou por curiosidade” (20,5% dos usuários). Os sabores, apontados pelas organizações contrárias como apelativos e principal motivo pelo interesse das pessoas, principalmente jovens, ficou somente em 5º lugar com 6,8%.
Já o principal local de aquisição do cigarro eletrônico foi em “lojas, quiosques ou bares” (43,1% dos usuários), mostrando que as pessoas preferem comprar em locais físicos. Em segundo lugar aparece a internet, com 29,9%.
O mais curioso, é que o principal local onde as pessoas dizem ter visto propagandas de cigarro eletrônico foi a televisão (57,3% das pessoas que referiram já ter visto propaganda deste produto). Obviamente não existem propagandas de cigarros eletrônicos na televisão, uma vez que a prática é proibida desde 2009 pela Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária e nenhum veículo de TV aceitaria veicular uma propaganda de um produto proibido.
Então o que está acontecendo?
O mesmo fenômeno acontece nos EUA, com campanhas anti-vaping produzidas por grupos como o Tobacco-Free Kids, outra organização fortemente financiada pela Bloomberg e parceira da Vital Strategies.
Em um artigo da Filter Magazine, Michelle Minton, investigadora sênior do Competitive Enterprise Institute, produziu um relatório que batizou de “Psicologia Perversa – Como os ativistas anti-vaping criaram a “epidemia” de vaping juvenil”, argumentando que as campanhas anti-vaping nos EUA que retratam os cigarros eletrônicos como uma epidemia juvenil mortal têm o efeito oposto ao pretendido. Ela observou que, após um aumento inicial na vaporização entre jovens, houve um declínio por volta de 2015-2017 – mas que um aumento de 78% no número de estudantes do ensino médio que experimentaram a vaporização em 2018 seguiu-se a uma proliferação de campanhas anti-vaping na mídia.
Aqui no Brasil, fora o relativo interesse da mídia em esporadicamente tratar do assunto nos últimos 2 anos, há um impulso cíclico da imprensa sempre quando o tema é aquecido por algum motivo, como consultas públicas e reuniões realizadas pela Anvisa. Em ambos os momentos, a maior parte da narrativa costuma ser negativa, como é padrão atual do jornalismo, já que notícias assustadoras e chocantes chamam mais a atenção do espectador.
O problema começa quando tais reportagens não se preocupam em apresentar informações dentro de um contexto ou confirmar se há embasamento científico para o que é mostrado, frequentemente entrevistando os mesmos profissionais de saúde dessas organizações financiadas pela Bloomberg, que usam a tática do argumento por autoridade, se vestindo não só do jaleco, mas de seus títulos e cargos, para declarar em rede nacional que “cigarros eletrônicos são mais prejudiciais do que fumar”, sem citar qualquer fonte ou referência científica.
Os dados do relatório Covitel 2023 mostram que o fenômeno que acontece nos EUA também está ocorrendo no Brasil e as narrativas contrárias aos cigarros eletrônicos e a extensa cobertura negativa da mídia, independente de motivos, interesses ou credibilidade, parecem ter o efeito inverso do pretendido, onde os brasileiros estão literalmente confundindo a presença dos produtos na TV mostrados nessas reportagens com propagandas, o que acaba criando curiosidade e interesse na cabeça das pessoas de todas as idades.